Instituto Pensar - Pela 1ª vez em 20 anos, Brasil não atinge meta para nenhuma das principais vacinas infantis

Pela 1ª vez em 20 anos, Brasil não atinge meta para nenhuma das principais vacinas infantis

por: Nathalia Bignon


(Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Pela primeira vez em quase 20 anos, o Brasil não atingiu a meta para nenhuma das principais vacinas indicadas para crianças de até um ano de idade. Os dados, extraídos do Programa Nacional de Imunizações de 2019, foram analisados pela Folha de S. Paulo e divulgados nesta terça-feira (8).

Segundo o jornal a situação ocorre em um contexto de queda nas coberturas vacinais nos últimos cinco anos, cuja redução já chega a até 27% para alguns imunizantes. Para complicar, em meio à pandemia da Covid-19, equipes de saúde relataram atrasos na busca pela vacinação também neste ano ? o que indica a possibilidade de nova queda histórica nos índices.

Em geral, a meta de vacinação de bebês e crianças costuma variar entre 90% e 95%. O primeiro patamar vale para vacinas contra tuberculose e rotavírus, e o segundo para as demais. Abaixo desse valor, há forte risco de retorno de doenças eliminadas ? como já ocorreu com o sarampo, por exemplo ? ou aumento na transmissão daquelas que até então vinham sendo controladas.

Em 2019, porém, nenhuma vacina atingiu a meta entre o grupo de bebês e crianças até um ano completo. Em 2018, mesmo em queda, 3 das 9 principais indicadas a esse grupo atingiram o patamar ideal

Em outros momentos, o Brasil também chegou a ter até sete vacinas com cobertura dentro do ideal, com as demais próximas desse cenário. Assim, os dados trazem um novo alerta a um país reconhecido por ter um dos maiores e mais bem-sucedidos programas de imunização do mundo.

O maior índice de cobertura na vacinação de rotina (91,6%) foi registrado para a vacina tríplice viral, que protege contra o sarampo, o que pode estar ligado ao aumento nas informações sobre a doença (em geral, os dados de campanhas específicas pra reforço são registrados à parte). Já o menor (69%) foi registrado para a pentavalente, que protege contra difteria, tétano e coqueluche, entre outras, e alvo de desabastecimento em boa parte do último ano.

Queda na adesão de vacinas

Na prática, os dados de 2019 mostram que 8 das 9 vacinas indicadas a crianças de até um ano tiveram queda na adesão.

Em alguns casos, como as vacinas contra poliomielite e tuberculose, a cobertura vacinal já chega ao menor índice em ao menos 23 anos. Em outros, como a pentavalente, a cobertura é a menor desde que houve a incorporação completa no SUS.

A cada ano, secretarias de saúde costumam ter até o final de abril para registrar no sistema dados de vacinação do ano anterior. Neste ano, com a pandemia, o prazo máximo foi adiado para 31 de julho.

Causas dos registros de vacinas

Apesar dos primeiros alertas terem ocorrido há vários anos, ainda não há uma explicação exata sobre o que leva à queda nas coberturas. Pesquisas que estavam sendo aplicadas desde o último ano tiveram que ser adiadas na pandemia.

Especialistas, porém, apontam fatores como a falsa sensação de segurança, mudança no mercado de trabalho, problemas na organização da rede e até o próprio sucesso do programa, com aumento no número de vacinas ofertadas, o que exige ir mais aos postos.

Outro fator que pode ter pesado, sobretudo em 2019, foram casos de desabastecimento, como houve com a pentavalente, após problemas na compra no mercado internacional, e com a BCG, aplicada em maternidades

Movimentos antivacina

Apontado como fator para uma queda na vacinação também no restante do mundo, movimentos antivacina ainda são vistos como fracos no Brasil.

Declarações recentes do presidente Jair Bolsonaro de que ninguém é obrigado a se vacinar contra a Covid-19, no entanto, têm levantado polêmica por seu potencial antivacinação.

Se os dados dos últimos anos geram alerta, a situação tende a se agravar neste ano. Equipes de saúde avaliam que o temor do coronavírus pode ter levado famílias a evitar os postos.

Em abril, a vacinação de rotina também chegou a ser suspensa temporariamente em alguns estados em meio à campanha contra a gripe.

"A situação é catastrófica?

Na tentativa de retomar os índices, o Ministério da Saúde já prepara uma campanha de multivacinação em outubro. Para especialistas, no entanto, a adesão à vacinação já deve ser estimulada, sobretudo em estados que planejam retomar as aulas nas próximas semanas.

Questionado, o Ministério da Saúde diz que tem ampliado campanhas de conscientização e atribui a queda também em 2019 à redução que já vinha sendo registrada nos últimos anos.

Também cita fatores, "tais como a falsa sensação de segurança causada pela diminuição ou ausência de doenças imunopreveníveis; o desconhecimento da importância da vacinação por parte da população mais jovem e as falsas notícias veiculadas especialmente nas redes sociais sobre o malefício que as vacinas podem provocar à saúde?.

A pasta frisa ainda que, mesmo com a pandemia, a vacinação segue normalmente, "respeitando as diretrizes e orientações de segurança para evitar o risco de transmissão da Covid-19?.

Com informações da Folha de S.Paulo



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