Juíza diz que divulgação poderia afetar imagem de Flávio
por: Nathalia Bignon
A juíza Cristina Serra Feijó, da 33ª Vara Cível do Rio, afirmou que a ?exposição indevida de documento sigiloso? do caso das ?rachadinhas? pela imprensa poderia comprometer o andamento das investigações e a imagem do ex-deputado estadual e hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). O argumento está na decisão proferida na última sexta-feira (4), que proibiu a TV Globo de exibir qualquer peça ou documento relacionado ao suposto esquema.
A medida causou forte reação das entidades de imprensa e foi classificada como censura pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) e pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Em nota divulgada neste sábado (5), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) também alertou que a censura tem se tornado rotina no país e pediu apoio por parte do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Parece estar se tornando praxe no país a censura à imprensa, tal como existia no tempo da ditadura militar e do AI-5?, diz a ABI. "É mais um atropelo à liberdade de expressão. É urgente que o STF restabeleça o império de lei.?
?Segurança e intimidade dos envolvidos?
Após a repercussão, a juíza Cristina Serra Feijó divulgou nota de esclarecimento no site da Associação dos Magistrados do Rio sobre sua decisão que proibiu a TV Globo de exibir documentos do caso das ?rachadinhas?. Segundo ela, a liminar foi ?exclusivamente técnica?.
No processo, Cristina Feijó diz que o caso ?não diz respeito propriamente à liberdade de imprensa?, mas sim à ?responsabilidade pelos danos causados pela divulgação de documentos e informações?. Por isso, sua decisão não poderia ser classificada como ?censura prévia?.
"Embora admirável a atuação do jornalismo investigativo na reconstrução e apuração dos fatos, ela esbarra nos limites da ofensa a direito personalíssimo?, afirmou Feijó. "A exposição indevida de documento sigiloso ou a divulgação de informação protegida por sigilo pode vir a comprometer a higidez da investigação?.
"A decisão visa preservar a segurança da investigação e a intimidade dos envolvidos?, afirmou, negando se tratar de censura. "A decisão não determina censura a conteúdo previamente divulgado, muito menos a retirada de reportagens do ar?.
"Some-se a isto que o requerente (Flávio Bolsonaro) ocupa relevante cargo político e as constantes reportagens, sem qualquer dúvida, podem ter o poder de afetar sua imagem de homem público e, por via transversa, comprometer sua atuação em prol do Estado que o elegeu senador?, afirmou a juíza.
Versão de Flávio Bolsonaro
Segundo Flávio Bolsonaro, as reportagens investigativas sobre o caso das rachadinhas feitas pela TV Globo ?excedem? os limites da liberdade de imprensa ?ao exibir documentos sigilosos que instruem o procedimento investigatório?, como extratos bancários e declarações de imposto de renda, ?fazendo ilações sobre patrimônios e operações financeiras?.
Ele celebrou a medida na noite da sexta. "Não tenho nada a esconder e expliquei tudo nos autos, mas as narrativas que parte da imprensa inventa para desgatar minha imagem e a do Presidente Jair Messias Bolsonaro são criminosas. Juíza entendeu que isso é altamente lesivo à minha defesa. Querer atribuir a mim conduta ilícita, sem o devido processo legal, configura ofensa passível, inclusive, de reparação?, disse.
Novas informações sobre o caso
No sábado, o jornalista Samuel Pancher usou o Twitter para divulgar documentos sobre as movimentações financeiras do senador. "O MP-RJ descobriu mais de 400 depósitos de assessores do senador Flávio Bolsonaro nas contas de Fabrício Queiroz". "O valor atingia milhões de reais?, afirmou.
"Fabrício Queiroz fez pagamentos em dinheiro vivo para Flávio Bolsonaro e sua esposa. Até registros de câmeras de segurança provam os pagamentos. O dinheiro, segundo o MP, vinha do esquema de corrupção no gabinete de Flávio?, acrescentou.
Globo vai recorrer
Na edição do Jornal Nacional deste sábado, a TV Globo afirmou que respeita ordens judiciais, mas que vai recorrer da decisão. "A Globo respeita ordens judiciais, mas lamenta esse cerceamento da liberdade de informação, uma vez que a investigação em questão é de interesse de toda a sociedade. A Globo recorrerá da decisão assim que for notificada?, leu o âncora Flávio Fachel.
Flávio Bolsonaro é investigado por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa em suposto esquema do qual faria parte seu então assessor Fabrício Queiroz, demitido em 2018, após os primeiros indícios de irregularidades no gabinete do filho do presidente serem revelados.
Segundo relatório do antigo Conselho de Atividades Financeiras (Coaf), Queiroz fez movimentações financeiras atípicas. Foram R$ 7 milhões de 2014 a 2017, apontaram cálculos do órgão. Ele foi preso em Atibaia (SP) em junho, na casa do advogado do senador, Frederik Wassef, e cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro.
Com informações do Estadão e O Globo
0 Comentário:
Nome: | Em: | |
Mensagem: |