Instituto Pensar - ?Muitos temem que Bolsonaro leve o Brasil à ruína ambiental?, diz The Guardian

?Muitos temem que Bolsonaro leve o Brasil à ruína ambiental?, diz The Guardian

por: Nathalia Bignon 


(Foto: Lucas Landau/The Guardian)

A imprensa internacional voltou a denunciar a política ambiental adotada pelo governo de Jair Bolsonaro e a destruição da Amazônia no fim da quarta-feira (2). Desta vez, o britânico The Guardian apontou que 20 meses após o mandatário assumir a presidência ? e um ano após a eclosão devastadora dos incêndios na região causarem indignação global ?, as chamas voltaram a queimar " e muitos temem que o líder brasileiro esteja conduzindo seu país à ruína ambiental?.

Dias depois de Bolsonaro minimizar a situação, afirmando que ?fogo que arde na Amazônia é uma mentira?, o diário fez um voo de duas horas próximo à cidade de Novo Progresso, no Pará. Nele, repórteres do Guardian viram enormes colunas de fumaça branca e cinza subindo de florestas supostamente protegidas.

Em outros locais da região, era possível ver minas de ouro ilegais instaladas dentro do território indígena Baú ? descrito como caótico tapete de poças lamacentas e acampamentos improvisados onde antes existia uma floresta intocada. "Áreas recentemente desmatadas de árvores caídas e carbonizadas eram visíveis dentro da reserva florestal de Iriri?.

Na reportagem ?Amazon tragedy repeats itself as Brazil rainforest goes up in smoke? (?Tragédia da Amazônia se repete enquanto floresta tropical do Brasil vira fumaça?, em tradução livre), o jornal também repercute a fala de integrantes de órgãos de fiscalização e afirma que, sob pressão de investidores, o governo e líderes empresariais partiram para a ofensiva, na tentativa de que um escândalo, como o do ano passado, se repita.

Em 2019, celebridades e líderes mundiais, como Leonardo DiCaprio e Emmanuel Macron, condenaram o tratamento que Bolsonaro vinha dando à Amazônia.

?"A Amazônia está condenada à destruição?, desesperou-se um ex-chefe do enfraquecido órgão ambiental brasileiro, o Ibama, acusando o populista de extrema direita de comandar uma ?demolição? por atacado nos esforços de proteção?. "Sob este governo não haverá combate [à destruição da floresta]?, disse o ex-funcionário. "O futuro parece sombrio??.

Militares na Amazônia

Como ofensiva, o jornal afirma que o governo brasileiro mandou, em maio, milhares de soldados para supostamente reduzir os crimes ambientais, mas alguns afirmam que a medida pode estar piorando as coisas.

"Em julho, com o aumento da pressão de investidores internacionais, o Brasil anunciou a proibição de queimadas por quatro meses, com o objetivo de tranquilizar o mundo de que algo estava sendo feito. Mas as imagens de satélite coletadas pela própria agência espacial brasileira, Inpe, sugere que esses esforços estão aquém do necessário?, diz o jornal.

"Em agosto, foram detectados mais de 7.600 incêndios no Amazonas ? um dos nove estados que compõem a Amazônia brasileira ? o maior número desde 1998 e quase 1.000 a mais que no ano passado. Na terça-feira, o Inpe anunciou que em toda a região amazônica foram detectados mais de 29.307 incêndios em agosto ? o segundo maior número em uma década e apenas um pouco menos do que o número do ano passado, de 30.900.?

Alerta do Greenpeace

Guardian comenta ainda que um cálculo feito pelo Greenpeace indica uma redução de apenas 8% nos incêndios entre meados de julho e meados de agosto, em comparação com o ano passado, mesmo após a mobilização militar e o decreto de proibição das queimadas. "Estamos vendo a tragédia do ano passado se repetir?, disse Rômulo Batista, ativista da Ong em Manaus, capital do Amazonas.

Durante um recente voo de monitoramento sobre quatro estados da Amazônia ? Amazonas, Mato Grosso, Rondônia e Pará ?, Batista também testemunhou cenas chocantes da devastação.

"Vimos pastagens em chamas, áreas desmatadas e de floresta sendo queimadas. E era óbvio que lá embaixo na floresta abaixo de nós ninguém estava em casa [por causa do coronavírus]?, disse ele. "Todos ? madeireiros ilegais, grileiros, mineiros ilegais ? estão trabalhando e, ainda mais do que o normal, certos de que as inspeções do governo foram reduzidas por causa da pandemia.?

"É com a floresta e os rios que eu me alimento?

A publicação também narra o sentimento de desolação dos povos tradicionais da Amazônia. "Bep Protti Mekrãgnoti Re, um chefe do povo indígena Kayapó, disse que sua tribo estava pagando um alto preço pela postura antiambiental do governo?.

"?O que o desenvolvimento de Bolsonaro significa é a destruição dentro de nossa reserva?, disse Bep Protti, que recentemente liderou um bloqueio de uma semana da rodovia Amazônica cortando Novo Progresso para exigir proteção??. Ele pediu uma ação urgente para monitorar e proteger as florestas da região e a vida selvagem: "É com a floresta e os rios que eu me alimento.?

Bolsonaro e a ?retórica antiambiental?

"Este é sem dúvida o pior momento em mais de 30 anos que vivemos no Brasil. E, infelizmente, era totalmente esperado porque o presidente foi eleito graças à sua retórica antiambiental ? e agora ele está cumprindo essas promessas?, disse ao jornal Carlos Rittl, um ambientalista brasileiro que trabalha no Instituto de Estudos Avançados de Sustentabilidade da Alemanha. "O sentimento é de desolação?, disse Rittl, acrescentando: "2020 vai ser um ano terrível?.

"?[Rômulo] Batista comparou a abordagem de Bolsonaro aos incêndios florestais ao seu manejo negador do coronavírus, que já matou mais de 120 mil brasileiros. "O populista de extrema direita esperava negar as imagens de satélite e a ciência e projetar ?um ar de normalidade? para o mundo ?assim como fez com a Covid-19. Infelizmente, isso simplesmente não é verdade??

Ao diário, o ex-funcionário do Ibama mostrou-se igualmente pessimista, alegando que operações estavam "completamente paralisadas? e as políticas ambientais do Brasil em frangalhos. "A instituição, sofrendo de anos de cortes, tinha apenas seis helicópteros para policiar os 2,1 milhões de quilômetros quadrados da Amazônia, com planos de tirar mais dois deles fora de serviço. ?Se você me perguntar, para combater o desmatamento precisaríamos de pelo menos 12.??

?Sem compromisso ambiental?

"Na semana passada, o ministro do meio ambiente do Brasil anunciou que todas as operações antidesmatamento seriam interrompidas, embora a decisão tenha sido revertida após um protesto.?

"[Carlos] Rittl chamou os últimos incêndios ? que devem continuar até outubro ? de ?uma tragédia prevista? e a consequência de "um governo absolutamente sem compromisso com o meio ambiente??.

"Sob Bolsonaro, o Brasil está se tornando talvez o maior inimigo global do meio ambiente. É tão triste ver?, disse ele. "Um pequeno número de pessoas enriquece muito com isso ? e todos nós perdemos?, finaliza o The Guardian.



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