Instituto Pensar - Por um Conceito Brasileiro de Economia Criativa

Por um Conceito Brasileiro de Economia Criativa

No único documento oficial sobre o tema, no Brasil, o Plano Nacional de Economia Criativa, considera que o primeiro desafio do Plano foi, justamente, a pactuação de um conceito para a Economia Criativa.

Esta dificuldade se explica pelas origens da expressão que praticamente nasceu na Austrália, com o lançamento da primeira política pública para a área denominada "Nação Criativa" (Criative Nation), pelo primeiro ministro australiano Paul Keating. Num famoso discurso, o primeiro-ministro da Austrália reafirmou a necessidade de defesa da identidade cultural nacional, potencialmente ameaçada pela revolução tecnológica e pela cultura de massa global. Só que fez isso de forma positiva: "devemos encarar a revolução da informação e das novas mídias não com medo nem aversão e sim com imaginação e empenho. Devemos ver as oportunidades extraordinárias de fruição e criatividade que ela contém. Pode gerar novos campos de oportunidades (...). A cultura cria riqueza".

Na Inglaterra, do final da década de 90, Tony Blair foi mais longe, elevou a economia criativa à categoria de bandeira estratégica, tanto de sua campanha de 1997, como no seu Governo: a "Criative Britain". A vitória de Blair "significou a interrupção de longos dezoito anos de domínio de conservadorismo" como lembra Paulo Miguez. Ele colocou as chamadas "indústrias criativas", que podemos traduzir como setores criativos, como o motor do desenvolvimento econômico do Reino Unido: publicidade, arquitetura, mercados de arte e antiguidades, artesanato, design, moda, audiovisual, software, música, artes do espetáculo, editoração, serviços de informática, rádio e Tv.

Turismo, gastronomia, entretenimento, serviços de educação e pesquisa, não foram formalmente incluídos na lista, embora a estrutura governamental montada para a Economia Criativa na Inglaterra contemplasse esses setores.

Num rápido exame de experiência internacional, uma coisa que fica clara é a necessidade de se definir a abrangência da Economia Criativa, de acordo com a realidade objetiva da economia de cada país.

Para o estabelecimento de uma política pública faz-se necessário o conhecimento – através de ampla pesquisa – da economia criativa, para identificar os setores mais dinâmicos, os que geram mais empregos, ou o que são capazes de agregar mais valor à produção, seja na indústria ou nos serviços.

A dicotomia conceitual mais comum está entre a prevalência das dimensões do simbólico (cultural), ou do intangível (criatividade). Claro que na cadeia produtiva da música, por exemplo, prevalece a dimensão simbólica – cultural. Mas não se pode dizer o mesmo da criação de um aplicativo para localizar e chamar táxi. Óbvio que a criação do aplicativo é Economia Criativa e, no entanto, não possui dimensão simbólica.

A definição conceitual oficial do Brasil da economia criativa, dizendo que "os setores criativos são aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social", traz a marca de sua origem, ou seja, ter sido criado pelo Ministério da Cultura.

Certamente está mais próximo da realidade um conceito encontrado no próprio texto que trata do mesmo assunto no Plano Nacional da Economia Criativa: "A Economia Criativa é, portanto, a economia do intangível, do simbólico. Ela se alimenta dos talentos criativos, que se organizam individual ou coletivamente para produzir bens e serviços criativos".

De qualquer forma existem duas grandes áreas que se complementam e mesmo se interpenetram:

Indústrias Culturais: mais ligadas à criação artística e a produção literária; e,

Indústrias Criativas: mais ligadas à inovação tecnológica, a criação de softwares e ao design em todas as aplicações.

Ambas tem em comum o fato de partirem do talento humano e da criatividade para agregar valor a produtos ou serviços.

Talvez o conceito internacional mais próximo da realidade, tenha sido formulado pelo espanhol Ramon Zallo, da Faculdade de Ciências Sociais e de Comunicação da Universidade do País Basco (UPV), que desenvolve uma visão realista e crítica da Economia Criativa: "É uma economia de valores intangíveis ou simbólicos gerados por trabalhos criativos em forma de bens ou serviços individualmente insubstituíveis e em permanente renovação de conteúdos ou de interpretações. É uma economia de oferta múltipla, oferta que cria a demanda e que tem uma funcionalidade e eficácia social além do seu valor econômico".

Ou, numa visão mais simples, direta e mais brasileira, o SEBRAE define: "A Economia Criativa é composta pelos modelos de negócio ou gestão que se originam em atividades, produtos ou serviços desenvolvidos a partir do conhecimento, criatividade ou capital intelectual de indivíduos com vistas à geração de trabalho e renda". Ainda, segundo o SEBRAE, "são atividades que estão baseadas no conhecimento e produzem bens tangíveis e intangíveis, intelectuais e artísticos, com conteúdo criativo e valor econômico".

O conceito definitivo só surgirá depois que se conhecer toda a extensão da economia criativa brasileira, numa ampla pesquisa cuja metodologia supere as limitações das que já foram feitas.

O conceito brasileiro de Economia Criativa precisará refletir toda a gama de atividades que compõe o setor. Do acarajé da Bahia aos pratos de Alex Atala em São Paulo, na gastronomia. Da produção de um CD de Carimbó ou Tecnobrega no Pará ao rock da Banda Skank, de Minas Gerais. Da Renda de Bilro de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte ao design de moda apresentado na São Paulo Fashion Week. Das cestas de inspiração indígena do Amazonas até a alta tecnologia dos softwares do Porto Digital de Recife.

Enfim, Economia Criativa se constitui de atividades criativas que se transformam em bens de valor econômico e contribuem para a criação de riqueza, trabalho e renda.ômico e contribuem para a criação de riqueza, trabalho e renda.

 



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