Instituto Pensar - Ativos da floresta amazônica estimulam startups e impulsionam a bioeconomia

Ativos da floresta amazônica estimulam startups e impulsionam a bioeconomia

por: Mônica Oliveira 


As startups da região amazônica atuam através da lógica de aplicação da ciência e tecnologia aos ativos da região, desde o início da cadeia de produção (Foto: Tamara Sare/Fotos Públicas)

Baseados em produtos e projetos locais, que vão de açaí a cosméticos, pequenos negócios inovadores começam a transformar o cenário regional da Amazônia, impulsionando a bioeconomia. A crescente prática de uso inteligente dos recursos naturais para garantir o bem-estar socioambiental aplicada aos negócios, tem feito surgir um universo de startups na região amazônica, e estimulado uma maior participação na economia nacional.

Segundo a Revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios, essas startups possuem foco em atividades sustentáveis que envolvem comunidades ribeirinhas, indígenas, quilombolas e agricultores familiares. São negócios que podem inspirar governos, setor empresarial e ambientalistas a desenvolverem a região e gerar renda sem destruir a floresta.

Idealizador do projeto Amazônia 4.0, o pesquisador Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da USP, diz que o conceito de bioeconomia visa a promover sistemas de produção baseados no uso e na conservação dos recursos biológicos da floresta em pé.

Com o entusiasmo dessa economia verde, ou de baixo carbono, a Região amazônica, que representa cerca de 60% do território brasileiro, pode dar um salto em sua participação no Produto Interno Bruto (PIB), que atualmente é de 8%, segundo avaliação de especialistas no tema.

Fabricante de cosméticos com óleos extraídos de plantas da região, a startup Biozer é um dos exemplos do florescer dessa nova economia. O pequeno negócio se prepara para exportar seus produtos aos EUA, Emirados Árabes e Europa.

"Queremos levar produtos premium para o Brasil e o mundo com o mesmo óleo que o caboclo e o índio usam há centenas de anos, sem nenhum aditivo?, diz o criador da startup, Danniel Pinheiro, de 26 anos, formado em biotecnologia.

Os chocolates da De Mendes são feitos com cacau nativo colhido por ribeirinhos, quilombolas e índios e chegam a consumidores do Brasil e também do exterior.

Na parceria com esses povos, a De Mendes os ensinou a fermentar a polpa com sementes, secar e macerar para obter o pó usado para fazer chocolate. "Mantemos uma relação justa de preço e pago em torno de quatro vezes mais que o mercado?, conta o chocolatier. Com isso, destaca ele, "os povos locais conseguem obter renda sem precisar destruir a floresta?.

A lógica está em aplicar ciência e tecnologia a dezenas de ativos da região, desde o início da cadeia de produção, para aumentar o valor dos produtos e beneficiar as populações locais.

Segundo o engenheiro florestal Mariano Cenamo, é preciso harmonizar a capacidade empreendedora da região com a população que vive nela. "Não tem como manter a floresta de pé sem gerar renda para a população local?, afirma ele, que é diretor de novos negócios do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), responsável por promover programas de aceleração de negócios de impacto.

Maior biodiversidade vegetal do mundo

O Brasil detém a maior biodiversidade vegetal do mundo, possuindo cerca de 50 mil espécies de plantas, das quais pelo menos 20 mil ocorrem somente no País (endêmicas). Entre todos os biomas aqui abrigados, a região da Amazônia é o que oferece melhores condições para investimentos imediatos.

Um estudo do WRI Brasil com base em dados do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que 74% das atividades extrativistas não exaustivas (com sementes, folhas, frutos, óleos, sem levar à derrubada da árvore) estão na Amazônia.

Segundo Nobre, atividades extrativistas realizadas na região, apesar da pequena escala, já são mais lucrativas do que desmatar. Na mesma linha, o especialista no tema, do WRI, o economista e biólogo Rafael Feltran-Barbieri calcula que o extrativismo não exaustivo é particularmente rentável para os pequenos proprietários.

Um exemplo é o valor anual da produção de carne e soja, que rende R$ 604 por hectare, e no caso do açaí, cacau e castanha, pode chegar a R$ 12,3 mil.

Com informações do Jornal do Comércio e Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios



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