Professores estão tão preocupados em retornar às escolas nos EUA que já preparam testamentos
por: Nathalia Bignon
O avanço da Covid-19 nos Estados Unidos tem feito crescer também o temor sobre as consequências do retorno das atividades escolares entre os professores norte-americanos.
Com vários Estados se preparando para a retomada das aulas presenciais no início do ano escolar no país, profissionais da educação têm se mostrando tão preocupados com o avanço da pandemia que já preparam seus testamentos para o caso de serem infectados pelo coronavírus. A informação foi divulgada na segunda-feira (17) pela emissora CNN.
Professores: entre testamentos e seguros de vida
"Quão horrível é que uma das coisas da lista a fazer é ter um plano para o caso de estudantes e professores morrerem?, questionou Denise Bradford, professora no Distrito Escolar Unificado de Saddleback Valley, na Califórnia.
Esta semana, o Conselho de Educação de Orange County, um dos 58 condados do estado americano da Califórnia, votou a favor do retorno das atividades escolares, sem impor a obrigatoriedade de máscaras ou distanciamento social, apesar do aumento nos casos de coronavírus e de mais de sete mil mortes pela Covid-19 no estado.
No último sábado, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) alertou que o número de crianças infectadas no país vêm aumentando de forma progressiva entre março e julho. Até o último dia 3 de agosto, 7% de todos os casos da Covid-19 nos EUA foram entre crianças e adolescentes até 17 anos, faixa que corresponde a 22% da população americana.
Em recentes declarações à CNN sob condição de anonimato , vários professores disseram guardar um sentimento semelhante: apesar da saudade dos alunos e do regime presencial, eles estão preocupados com a saúde diante da imposição do retorno às aulas. "Sentimos muita falta das nossas crianças, disse Bradford. "Ficamos acordados à noite pensando se estão bem.
Louise, professora de educação especial em outro estado onde a Covid-19 começou a avançar, afirmou que está preparando um testamento. Além disso, disse estar estudando a contratação de seguro de vida complementar enquanto se prepara para voltar à escola no próximo mês.
Eleeza, outra professora do Ensino Médio do mesmo distrito, disse que está atualizando o seu testamento e organizando um fundo fiduciário uma espécie de seguro em caso de morte para que o seu filho de alto risco, de 19 anos, não fique desamparado.
Amy Forehand, professora da pré-escola, confessou que fazer um seguro de vida suplementar é uma prioridade para este fim de semana. "Como é que estamos no meio de uma pandemia e eu vou entrar naquela fábrica de germes sem testamento?, interrogou.
Alguns professores sentem-se vulneráveis porque são mais velhos ou têm condições de saúde que o tornam suscetíveis à doença. Alguns cogitaram pedir demissão, mas preocupam-se com as consequência financeira disso.
Enquanto pressionava pela abertura de escolas, o presidente Donald Trump queixou-se de que as diretrizes são "muito rígidas e caras. O secretário de Educação, Besty DeVos, se recusou a dizer se os distritos deveriam segui-los e, em uma entrevista recente à CNN, deixou claro que o governo não tem planos para uma reabertura segura, deixando isso para os estados ou distritos.
Decisão dos distritos escolares
As decisões sobre a reabertura de escolas nos Estados Unidos estão sob a responsabilidade dos distritos escolares, embora estas recebam algumas orientações das autoridades estaduais e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, em meio a acusações de terem sucumbido à pressão da Casa Branca para retomada das aulas.
Escolas e universidades do país já começam a sentir os efeitos da retomada das aulas. No campus da Universidade da Carolina do Norte localizado na cidade de Chapel Hill, a reitoria identificou quatro locais de alta taxa de infecções em locais que servem como residências universitárias.
No Arizona, um distrito escolar cancelou o retorno presencial após mais de 100 professores entrarem em greve por conta da pandemia. Na Geórgia, outro distrito suspendeu aulas após casos em uma escola chegarem a 25, com outros 500 alunos em quarentena.
Em Nova York, primeiro epicentro da doença no país, 607 novos casos foram confirmados no último fim de semana, com seis óbitos. O número total de infecções chegou a 425.500, com 527 hospitalizadas, aumento de quatro em relação a ontem, quando atingiu o patamar mais baixo de hospitalizações em cinco meses.
Líderes da pandemia
Mundialmente, a Universidade Johns Hopkins estima 21.554.374 casos de novo coronavírus, com 772.798 mortes. Os Estados Unidos seguem liderando a lista de infectados, com 5.467.815 casos, e de mortes, que já passam das 170 mil.
Desde o início de agosto, professores e equipes escolares têm protestado em mais de 35 distritos escolares nos Estados Unidos contra a reabertura de escolas.
Eles exigem que aulas presenciais não sejam retomadas até que terem dados científicos para o retorno seguro ao trabalho. Eles também exigem a adoção de protocolos de segurança, como turmas menores e testes de vírus, e que as escolas estabeleçam um número adequado de conselheiros e enfermeiras, de acordo com um site criado para veicular os protestos que vêm ocorrendo no país.
Com informações da CNN USA e G1
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