Gabinete de Bolsonaro abasteceu rachadinha por meio da filha de Queiroz, indicam extratos
por: Nathalia Bignon
Nathália Queiroz, filha do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz e ex-assessora parlamentar da família Bolsonaro, transferiu R$ 150.539,41 ao pai enquanto ainda trabalhava no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro (sem partido). Os dados da quebra de sigilo bancário de Nathália foram divulgados na quarta-feira (12) pelo jornal Folha de S. Paulo.
O dinheiro foi repasso por Nathália a Queiroz entre janeiro de 2017 e setembro de 2018. Desde dezembro de 2016, ela trabalhava no gabinete de Jair Bolsonaro, onde atuou até outubro de 2018, quando foi exonerada.
O valor transferido representa 77% do salário que ela ganhava na Câmara dos Deputados. Nathália também foi assessora parlamentar do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-SP) de agosto de 2011 a dezembro de 2016. Antes disso, ela trabalhou desde 2007 a 2011 na vice-liderança do PP, comandada por Flávio.
Promotores apontam que de 2007 a 2016, ela repassou ao menos 82% dos seus ganhos ao pai. Nos dois casos, as transferências a Fabrício Queiroz ocorriam sempre próximo aos pagamentos da Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), onde trabalhou para Flávio.
Repasses
A dinâmica dos repasses que ela fez enquanto trabalhava para a Câmara são as mesmas relatadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) sobre o esquema de "rachadinha, montado no antigo gabinete de Flávio, tendo Queiroz como operador financeiro. Sobre os dois pesam acusações de peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.
No ano passado, o jornal O Globo já havia revelado que relatório do Coaf mostrava quatro transferências de Nathália para o pai de junho a novembro de 2018. Os dados do documento, contudo, não permitiam a vinculação de datas entre os repasses e o salário pago na Câmara, além de se referir apenas a parte do período dela lotada no gabinete do presidente.
Além de Nathalia, são suspeitas de participação no esquema a mulher de Queiroz, Márcia Aguiar, e outra filha, Evelyn. Somada, a família do ex-assessor de Flávio representa 58% da movimentação com origem conhecida e considerada criminosa pelo MP-RJ.
Há a suspeita de que o valor movimentado no esquema seja maior do que os R$ 2 milhões com origem identificada. Investigadores consideram a possibilidade de que outros ex-assessores faziam seus repasses em espécie para Queiroz, sem depósito em conta, inviabilizando sua identificação como parte do esquema. A hipótese se baseia no fato de alguns assessores terem sacado a maior parte de seus salários.
O PM aposentado também sacou outros R$ 900 mil no período de 12 anos. Os promotores afirmam que parte desse valor também pode se referir a depósitos de assessores cuja identificação não foi possível.
Todo o dinheiro vivo do esquema, segundo o MP-RJ, pode ter sido usado para pagar despesas pessoais de Flávio Bolsonaro. O senador quitou boletos escolares e de plano de saúde com recursos em espécie ao longo de cinco anos. Os investigadores conseguiram identificar que Queiroz foi o responsável pelo pagamento em ao menos uma oportunidade, em outubro de 2018.
Em entrevista ao jornal O Globo, o senador reconheceu que seu ex-assessor pagava em algumas ocasiões suas contas pessoais, mas com seu dinheiro e de origem lícita. O MP-RJ, porém, não identificou saques compatíveis com o pagamentos dos boletos nas contas bancárias do filho do presidente.
Família Bolsonaro e a rachadinha
Este não é o primeiro episódio em que Bolsonaro é vinculado ao esquema da suposta "rachadinha do filho na Alerj.
A primeira-dama Michelle Bolsonaro recebeu 27 cheques de Queiroz e sua mulher, Márcia, que somam R$ 89 mil. Os repasses ocorreram em dois períodos: o primeiro de janeiro de 2011 a abril de 2013, e o segundo em 2016.
O valor supera os R$ 24 mil identificados no relatório do Coaf, pivô da investigação contra Flávio, bem como os R$ 40 mil descritos pelo presidente após a revelação do caso.
A defesa de Queiroz alegou, por meio de nota, que os repasses de Nathalia ocorriam para "centralização das despesas familiares na figura do pai.
Com informações da Folha de S.Paulo e Valor
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