Ministério da Justiça alega não fazer dossiê, mas não envia relatório ao STF
por: Igor Tarcízio
O Ministério da Justiça e Segurança Pública evitou confirmar a existência de um relatório sigiloso com dados de servidores públicos ligados a movimentos antifascistas. Em manifestação enviada ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF), a pasta fez uma defesa do sistema de inteligência do governo e disse que, por se tratar de tema sigiloso, não poderia enviar detalhes à Corte.
Ao negar que a Secretaria de Operações Integradas (Seopi) elabore dossiês contra opositores do governo Jair Bolsonaro, a pasta fez uma diferença entre o que seria atividade de inteligência e investigação criminal.
"A investigação criminal tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais. A atividade de inteligência, por seu turno, dedica-se a produzir conhecimentos para assessorar o processo decisório das autoridades públicas. Assim, é dever dizer que não há qualquer [sic] procedimento investigativo instaurado contra qualquer pessoa específica no âmbito da Seopi, muito menos com caráter penal ou policial. Noutras palavras, não compete à Seopi produzir dossiê contra nenhum cidadão e nem mesmo instaurar procedimentos de cunho inquisitorial, disse.
Lista negra do governo
Na terça-feira, a ministra Cármen Lúcia deu 48 horas para o ministério se manifestar sobre o caso após o partido Rede Sustentabilidade cobrar esclarecimentos sobre o monitoramento de 579 servidores públicos identificados revelado pelo site "UOL.
Em seu despacho, a ministra disse que, se verdadeira, a informação escancarava "comportamento incompatível com os mais basilares princípios democráticos do Estado de Direito. Ela, no entanto, não determinou que o relatório fosse enviado à Corte.
Para a pasta, "a submissão dos documentos produzidos ao Poder Judiciário, ainda que cercada de cautelas, poderia colocar em risco o sistema de salvaguardas das informações e documentos de inteligência e, por consequência, comprometer a credibilidade interna e externa [do Brasil].
"A mera possibilidade de que essas informações exorbitem os canais de inteligência e sejam escrutinadas por outro atores internos da República Federativa do Brasil ainda que, em princípio, circunscrito ao âmbito do STF já constitui circunstância apta a tisnar a reputação internacional do país e a impingir-lhe a pecha de ambiente inseguro para o trânsito de relatórios estratégicos.
Relatório não foi enviado ao STF
Caso enviasse relatórios de inteligência à Corte, a pasta argumentou que isso poderia elevar o risco país no setor econômico e que "não seria menos catastrófico se o STF, sob a "justificativa de suposto desvio de finalidade passasse a ter acesso a esse tipo de documento.
O ministério disse ainda que espera "parcimônia e sensibilidade do STF e que o espaço correto para explicações sobre o caso é na Comissão de Controle Externo da Atividade de Inteligência do Congresso. Contudo, em outro ofício, a pasta comunicou que o ministro André Mendonça vai prestar esclarecimentos sobre o caso hoje ao Congresso.
Posteriormente, a pasta também argumentou que, nos últimos anos, os diferentes governos mantiveram estruturas de inteligência para garantir a segurança do país.
Com informações do Valor Econômico
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