TURISMO E ECONOMIA CRIATIVA, UMA SOMA ESTRATÉGICA
Ambas atividades, admitindo-se que são distintas, apresentam taxas de crescimento superiores às da economia brasileira em geral. O turismo cresce a 7,7% a.a. no Brasil. E a Economia Criativa cresceu 6,9% a.a. entre 2004 e 2013, segundo levantamento da FIRJAN. Representa 2,1 % do PIB. Nesses 10 anos o PIB brasileiro cresceu a menos de 3,0% a.a.
O turismo está em quinto lugar na pauta das exportações brasileiras. Somente suas atividades típicas e diretas hotelaria, transporte, gastronomia, organização de viagens, eventos significam 3,7% do PIB. Emprega 2,9 milhões de trabalhadores. Isso sem contar com o que representa na indução a outras atividades, como construção civil (hotéis, centro s de convenções), compra de televisores, computadores, enxovais, que São contabilizadas pelo IBGE nas contas específicas da construção civil, eletroeletrônicos e confecções.
As duas atividades ou a economia criativa incluindo o turismo precisariam de Contas Satélites elaboradas pelo IBGE para quantificar as suas verdadeiras dimensões econômicas.
Mas por que esses setores não estão juntos se fazem parte de um mesmo contexto econômico e cultural?
Pelo modelo proposto pela UNESCO e reproduzido no Plano Nacional da Economia Criativa do Ministério da Cultura em 2011, o turismo consta como um setor criativo relacionado, e não um setor "nuclear".
Já no diagnóstico da Economia Criativa na cidade de São Paulo, realizado pela FUNDAP para a Prefeitura da capital paulista, a atividade turística simplesmente não aparece. Nem no quadro de profissionais alocados. Vejam que num dos eventos tomados como referência para a Economia Criativa, a São Paulo Fashion Week, até motoristas de táxi, passando por recepcionistas e funcionários ligados obviamente aos serviços turísticos estavam relacionados.
Outro importante documento, o Mapeamento da Indústria Criativa, realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, a FIRJAN, atualizada em 2014, coloca o turismo como um "setor de apoio" à Economia Criativa.
Ora, a característica mais importante da Economia Criativa é a centralidade do intangível como fator gerador da produção. Suas áreas mais conhecidas são música, artes cênicas, áudio visual, edição de livros e periódicos, design, artesanato, gastronomia e criação de softwares. Os "setores criativos são aqueles cujas atividades produtivas tem como processo principal um ato criativo, gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social", como diz o Plano de Economia Criativa.
Não creio que haja algo mais cultural e economicamente criativo que uma viagem.
Segundo a especialista Lala Deheinzelin "vivencias diferenciadas e valores simbólicos agregados aumentam a percepção de valor e fazem com que o intangível valha mais que o tangível(...)".
E é isso que, basicamente, a viagem como centro gerador da atividade turística proporciona: novos conhecimentos, novas vivências, novos descobrimentos, novas sensações de prazer e de crescimento cultural. A diversidade cultural, aliás, é um dos maiores ativos do turismo.
Economicamente, a fruição cultural, mesmo do turismo chamado de massas, tem contribuído para ampliar e fortalecer os museus, as casas de espetáculos, o patrimônio natural, o artesanato, as novas experiências culturais, a música, a dança, o teatro.
A elaboração de um roteiro, a criação de um filme para um destino turístico, a própria formatação de um destino turístico, os criativos sites de viagens com intensa troca de experiências, a criação de marcas que sintetizam e traduzem a força cultural, a beleza o encantamento de uma cidade ou um país, não são, porventura, atos criativos que "resultam em produção de riqueza cultural, econômica e social"? Em tudo isso não prevalece uma dimensão simbólica?
Uma revisão do Plano de Economia Criativa deveria avançar mais que a UNESCO e colocar o turismo como setor criativo nuclear e não um setor relacionado.
Contudo, mais importante que isso, é a constatação que a simples soma dos PIBs sem contar o efeito sinergético do Turismo 3,7% e da Economia Criativa 2,7% representam, juntos, 5,8% do PIB. Empregando mais de 4 milhões de pessoas com rendimentos salariais e taxas de crescimento econômico muito superiores à média da economia brasileira.
A soma talvez possa contribuir também para que os governos estaduais, municipais e, especialmente o Governo Federal, abram os olhos e percebam que a Economia Criativa e o Turismo podem vir a ser um vetor estratégico da economia.
E passando a considerá-los estratégicos estabeleçam incentivos e políticas públicas semelhantes aos que são dados às exportações, à indústria, à agricultura e à geração de energia.
DOMINGOS LEONELLI
Presidente do Instituto Pensar
Ex-Secretário de Turismo da Bahia
dleonelli@uol.com.br
04.03.2015
O turismo está em quinto lugar na pauta das exportações brasileiras. Somente suas atividades típicas e diretas hotelaria, transporte, gastronomia, organização de viagens, eventos significam 3,7% do PIB. Emprega 2,9 milhões de trabalhadores. Isso sem contar com o que representa na indução a outras atividades, como construção civil (hotéis, centro s de convenções), compra de televisores, computadores, enxovais, que São contabilizadas pelo IBGE nas contas específicas da construção civil, eletroeletrônicos e confecções.
As duas atividades ou a economia criativa incluindo o turismo precisariam de Contas Satélites elaboradas pelo IBGE para quantificar as suas verdadeiras dimensões econômicas.
Mas por que esses setores não estão juntos se fazem parte de um mesmo contexto econômico e cultural?
Pelo modelo proposto pela UNESCO e reproduzido no Plano Nacional da Economia Criativa do Ministério da Cultura em 2011, o turismo consta como um setor criativo relacionado, e não um setor "nuclear".
Já no diagnóstico da Economia Criativa na cidade de São Paulo, realizado pela FUNDAP para a Prefeitura da capital paulista, a atividade turística simplesmente não aparece. Nem no quadro de profissionais alocados. Vejam que num dos eventos tomados como referência para a Economia Criativa, a São Paulo Fashion Week, até motoristas de táxi, passando por recepcionistas e funcionários ligados obviamente aos serviços turísticos estavam relacionados.
Outro importante documento, o Mapeamento da Indústria Criativa, realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, a FIRJAN, atualizada em 2014, coloca o turismo como um "setor de apoio" à Economia Criativa.
Ora, a característica mais importante da Economia Criativa é a centralidade do intangível como fator gerador da produção. Suas áreas mais conhecidas são música, artes cênicas, áudio visual, edição de livros e periódicos, design, artesanato, gastronomia e criação de softwares. Os "setores criativos são aqueles cujas atividades produtivas tem como processo principal um ato criativo, gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social", como diz o Plano de Economia Criativa.
Não creio que haja algo mais cultural e economicamente criativo que uma viagem.
Segundo a especialista Lala Deheinzelin "vivencias diferenciadas e valores simbólicos agregados aumentam a percepção de valor e fazem com que o intangível valha mais que o tangível(...)".
E é isso que, basicamente, a viagem como centro gerador da atividade turística proporciona: novos conhecimentos, novas vivências, novos descobrimentos, novas sensações de prazer e de crescimento cultural. A diversidade cultural, aliás, é um dos maiores ativos do turismo.
Economicamente, a fruição cultural, mesmo do turismo chamado de massas, tem contribuído para ampliar e fortalecer os museus, as casas de espetáculos, o patrimônio natural, o artesanato, as novas experiências culturais, a música, a dança, o teatro.
A elaboração de um roteiro, a criação de um filme para um destino turístico, a própria formatação de um destino turístico, os criativos sites de viagens com intensa troca de experiências, a criação de marcas que sintetizam e traduzem a força cultural, a beleza o encantamento de uma cidade ou um país, não são, porventura, atos criativos que "resultam em produção de riqueza cultural, econômica e social"? Em tudo isso não prevalece uma dimensão simbólica?
Uma revisão do Plano de Economia Criativa deveria avançar mais que a UNESCO e colocar o turismo como setor criativo nuclear e não um setor relacionado.
Contudo, mais importante que isso, é a constatação que a simples soma dos PIBs sem contar o efeito sinergético do Turismo 3,7% e da Economia Criativa 2,7% representam, juntos, 5,8% do PIB. Empregando mais de 4 milhões de pessoas com rendimentos salariais e taxas de crescimento econômico muito superiores à média da economia brasileira.
A soma talvez possa contribuir também para que os governos estaduais, municipais e, especialmente o Governo Federal, abram os olhos e percebam que a Economia Criativa e o Turismo podem vir a ser um vetor estratégico da economia.
E passando a considerá-los estratégicos estabeleçam incentivos e políticas públicas semelhantes aos que são dados às exportações, à indústria, à agricultura e à geração de energia.
DOMINGOS LEONELLI
Presidente do Instituto Pensar
Ex-Secretário de Turismo da Bahia
dleonelli@uol.com.br
04.03.2015
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