Instituto Pensar - Turismo, Um Ativo Em Risco

Turismo, Um Ativo Em Risco

Em 2012 chegaremos a um bilhão de turistas desembarcando nos portos, aeroportos e rodoviárias do mundo, segundo a Organização Mundial de Turismo. Ainda, de acordo com a OMT, em 2010 foram 939 milhões de chegadas, que se traduziram numa movimentação de 926 bilhões de dólares. E, principalmente em 264 milhões de empregos no mundo, significando que 1 em cada 12 empregos está vinculado ao turismo. No Brasil, foram 5,2 milhões de turistas internacionais em 2010 e um patamar de 5,9 bilhões de dólares de movimentação econômica do turismo. Nessa conta, estão apenas alguns elos de sua cadeia produtiva. Dados do MTUR relativos a 2008 apontam ainda que 2,27 milhões de pessoas no Brasil possuem empregos formais vinculados ao turismo.

O ecossistema do turismo é pujante, social e economicamente vigoroso, mas muito frágil e dependente. Custos financeiros elevados, desequilíbrios climáticos e naturais, instabilidades políticas, administrações municipais pouco eficientes e problemas de segurança pública, atingem o setor profundamente. As grandes crises econômicas se refletem no turismo de forma global, reduzindo o volume total de viagens e os gastos dos turistas. A cifra de um bilhão de turistas no mundo, citada acima, deveria ter sido atingida em 2010. Atrasou dois anos. As crises localizadas provocaram deslocamentos dos fluxos de turistas, num mercado altamente competitivo. Competição entre países, cidades e destinos (localidades), entre operadoras, grupos hoteleiros e transportadoras.

Assim é que de forma aparentemente incompreensível cidades europeias em franca baixa estação turística, de repente tiveram seus destinos turísticos aquecidos, graças aos efeitos das crises políticas e da explosão de greves no Egito, Síria e na Tunísia, que levaram os turistas do Oriente para as cidades europeias.

Ainda no terreno das crises, enquanto fenômenos temporários, a exemplo da crise das polícias militares, o reflexo econômico é imediato: restaurantes e bares vazios, shows cancelados, visitas a museus transferidas, desistência de viagens, baixa procura na hotelaria. Da mesma forma que é um setor altamente empregador (felizmente ainda não inventaram o garçom robô), o setor de turismo é também altamente desempregador.

Pode-se dizer, portanto, que além de ilegal, aliás, inconstitucional, usando de violência que não cabe na democracia, as greves-motins da PM na Bahia, no Rio e em outros Estados, constituem-se numa perversão social com a destruição de postos de trabalho, a curto, médio e longo prazos. Infelizmente, porém, esses não são os únicos riscos do turismo no Brasil. Ainda mais grave do que as crises, é a relativa desinteresse política e econômica deste setor junto à sociedade e aos escalões superiores do poder público. Por não se mensurar o peso econômico real da atividade, não se considera o papel de indutor do desenvolvimento que o turismo exerce de forma crescente na sociedade do conhecimento e na economia de serviços. Conta-se economicamente apenas o alojamento, o transporte e outros poucos itens. Mas a construção de milhares de hotéis em todo o Brasil vai para a conta da construção civil, assim como as centenas de milhões de televisores e aparelhos de ar-condicionado vão para a indústria eletroeletrônica, lençóis para a indústria têxtil.

Claro que esses itens não poderiam ser contados pelo IBGE, duas vezes. E vem daí a necessidade da Conta-Satélite, uma contabilidade separada e específica do turismo para medir seu verdadeiro peso econômico. E a partir de então esse setor passasse a pesar mais nas cabeças decisivas do país. E, em vez de contarmos apenas as eventuais perdas de turistas nas crises, valorizaríamos os milhões de empregos e de renda gerados a partir do turismo e da sua imensa cadeia produtiva. Isso talvez chegasse até a política e os secretários de Turismo das prefeituras não fossem os últimos a serem escolhidos. Quem sabe então, pudéssemos ter o turismo internacional reconhecido como item de exportação, com as vantagens que as outras indústrias exportadoras têm.

E, finalmente, as crises eventuais passassem a pesar muito menos.

Domingos Leonelli
14.02.2012



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