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Alguma Coisa Acontece na Minha Bahia

"É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendia da dura poesia concreta de suas esquinas..."
Caetano Veloso in SAMPA


Só a vivência administrativa, só estando no governo é que na verdade pode-se perceber inteiramente a imensa potencialidade deste Estado.

E constatar quanto tempo e quantas oportunidades a Bahia perdeu nas últimas décadas. Quantas possibilidades foram apenas parcialmente aproveitadas. Mas, também, como é difícil fazer andar a máquina e tocar os grandes projetos.

Penso que estamos iniciando, neste governo, um grande salto.

O grande salto da Bahia para o futuro. Norte, sul, leste, oeste em estradas, ferrovias,vias aéreas, hidrovias e rotas marítimas acompanhadas de atividade econômica, arranjos produtivos locais e serviços públicos para garantir a integração física econômica e social da Bahia. Este é, a meu ver, o papel histórico do Governo Wagner neste início do século XXI.

Maior que a França em território, com um produto interno bruto superior a soma de 3 ou 4 países da América do Sul e um litoral com mais de 1.000 kilômetros, a Bahia nunca logrou ser inteira. Não conseguiu se fazer continente e, sim arquipélago, Sertão e litoral de costas, um para o outro, num conjunto econômico, social e cultural, fracionado.

Os diamantes e ouro da Chapada Diamantina iam direto para a França.

O Cacau e suas cacauicultores saiam de Ilhéus para a Europa e o Rio de Janeiro. O gado e a produção agrícola de Barreiras e de todo o Oeste estavam mais ligados a Goiás, Rio e São Paulo que a Salvador. O Rio São Francisco correndo em seu maior trecho no território baiano, mais nos dividia que nos unia.

E a famosa força de antigos líderes não foi suficiente para impedir que a sede da CHESF ficasse em Pernambuco, e da CODEVASF em Brasília e a do Banco do Nordeste, criado inclusive por Rômulo Almeida, em Fortaleza. E a sede da SUDENE em Recife. Enclaves econômicos e fraquezas políticas combinaram-se para acentuar a fragmentação..

E mesmo quando da implantação do Polo Petroquímico a atividade de ponta na área industrial, O manteve-se a característica do enclave econômico. Voltado para a exportação de insumos o Polo não foi acompanhado nem do seu desdobramento previsto de médias e pequenas industrias de transformação, nem de políticas urbanas, sociais e culturais metropolitanas integradoras. E o que se vê é a "pequena Salvador" como assinala o urbanista Paulo Ormindo sustentando quase sozinha o ônus demográfico e social de toda a Região Metropolitana.

Claro que temos exceções mais integradoras como o petróleo e a Petrobrás, e algumas poucas vias rodoviárias que trazem para Salvador parte dos grãos produzidos no Oeste.

Mas a regra tem sido a formação de enclaves.

Mesmo no turismo, atividade que gera 1 em cada nove empregos do mundo, e em alguns lugares 9 em cada 10 postos de trabalho, esta marca negativa do desenvolvimento econômico baiano é escandalosamente visível. Os pólos turísticos criaram-se, ou foram criados sem articulação com as economias do entorno ou regionais. Anula-se , assim, o benefício do seu caráter de produto de exportação tendo que importar tudo que consome para se realizar como atividade econômica. Porto Seguro tem 40.000 leitos e importa de outras regiões, Estados ou Países, tudo que lá se bebe, se come, se veste e tudo o que compõe os seus hotéis e restaurantes. Morro de São Paulo desalojou os pescadores da orla e implantou uma rede de hotéis e pousadas que importa tudo. E até Praia do Forte que ostenta um maior grau de integração social com o aproveitamento da mão de obra local e de sustentabilidade ambiental, importa de Pernambuco 80% de marisco que consome, 49% dos móveis e utensílios dos seus hotéis que vem de fora do Estado ou do Brasil.

Como se vê não é pequeno o Governo Wagner.

A própria esquerda baiana está atrasada vinte anos no cumprimento da grande tarefa histórica de integrar a Bahia física, cultural e socialmente.

Aqueles que escreveram os planos de governo de Waldir Pires, e que organizaram sua campanha vitoriosa, sonhavam com uma nova revolução baiana. Pretendiam transformar em ação o acervo intelectual acumulado por Rômulo Almeida, Pinto de Aguiar (o do enigma baiano) Milton Santos, Thales de Azevedo, Vasco Neto e tantos outros para inserir soberanamente a Bahia no mercado da globalização que se desenhava desde os meados do século XX. Fazê-la reencontrar-se com o Brasil do Centro Oeste, do Nordeste e até se constituir num dos pontos extremos da integração da América do Sul entre o Puerto de Arica no Pacífico e o de _________ no Atlântico da Bahia ( no projeto de Vasco Neto). Hoje é o Porto Sul.

O alinhamento político e ideológico dos governantes no plano estadual e federal – caso de Wagner e Lula – junta-se à possibilidade de um projeto que vai além dos 4 anos do mandato e abre para a Bahia uma extraordinária oportunidade histórica.

O passo imediato parece ser o da construção de um discurso conscientizador, estratégico, engajador, revelando aos componentes do próprio Governo e ao povo aquilo que já está acontecendo. A ferrovia oeste-leste até o Porto Sul, por exemplo, será muito mais que um "minério-duto" e deverá contar nas suas cabeceiras e margens com ações integradoras na criação de empregos, formação de capital humano, qualificação de mão de obra, serviços de saúde, educação e assistência social. Vai se articular com o novo aeroporto internacional de Ilhéus e por isso deveria ser pensado também para transporte de pessoas. Ilhéus, aliás vai se transformar numa das principais regiões metropolitanas do Brasil.

Este pedaço do Sul vai ter a oportunidade de junto com Itabuna, Uruçuca, Itacaré e outras cidades se constituir num território de desenvolvimento integrado com a diversificação industrial do cacau, os empreendimentos turísticos e o fortalecimento do pólo de informática. Da obra de Jorge Amado vai se enaltecer mais os trabalhadores, os pequenos empresários como o Nacif e a brejeira Gabriela que os coronéis e seus jagunços.

Em outra pauta, o semi árido deixa de ser um problema para ser uma solução que já é responsável por investimentos de 10 bilhões de reais nos últimos 3 anos em produção, apoio social, formação de mão de obra, educação e saúde. A produção de etanol pode ser um dos fatores de sua redenção definitiva.

E, politicamente, o desafio do Governo Wagner é demonstrar que o oxigênio democrático indiscutivelmente liberado pelo seu estilo, traduza-se em criatividade intelectual e empresarial, em estratégias consistentes, em articulação das grandes obras com as pequenas, médias e grandes ações sociais.


Domingos Leonelli

ex-Secretário de Turismo



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