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O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE

O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE

A Bahia ainda é um arquipélago de áreas desenvolvidas e por desenvolver. A vivência administrativa governamental nos possibilita perceber a imensa potencialidade deste Estado. E constatar quanto tempo e quantas oportunidades a Bahia perdeu nas últimas décadas. Quantas possibilidades foram apenas parcialmente aproveitadas. Mas, também, como é difícil fazer andar a máquina e tocar os grandes projetos.

A integração da Bahia foi apenas iniciada pelo Governo Wagner. Norte, sul, leste, oeste em estradas, ferrovias, vias aéreas, hidrovias e rotas marítimas acompanhadas de atividade econômica, arranjos produtivos locais e serviços públicos para garantir a integração física econômica e social da Bahia. Maior que a França em território, com um produto interno bruto superior a soma de 3 ou 4 países da América do Sul e um litoral com mais de 1.100 quilômetros, a Bahia nunca logrou ser inteira. Não conseguiu se fazer continente. Segue sendo arquipélago. Sertão e litoral de costas, um para o outro, numa geografia econômica, social e cultural fragmentada.

Um fracionamento histórico conveniente às elites baianas e aos nossos colonizadores: diamantes e ouro da Chapada Diamantina iam direto para a França. Cacau e seus cacauicultores saiam de Ilhéus para a Europa e o Rio de Janeiro. O gado e a produção agrícola de Barreiras e de todo o Oeste estavam mais ligados a Goiás, Rio e São Paulo que a Salvador. O Rio São Francisco, correndo em seu maior trecho no território baiano, mais nos dividia que nos unia. E a famosa força de antigos líderes baianos como Antônio Balbino, Luiz Viana, Antônio Carlos Magalhães, não foi suficiente para impedir que a sede da CHESF ficasse em Pernambuco, a da CODEVASF em Brasília e a do Banco do Nordeste, criado inclusive pelo baiano Rômulo Almeida, em Fortaleza. E a sede da SUDENE em Recife. Enclaves econômicos e fraquezas políticas combinaram-se para acentuar a fragmentação. E mesmo quando da implantação do Polo Petroquímico a atividade de ponta na área industrial, manteve-se a característica do enclave econômico. Claro que temos exceções mais integradoras como o petróleo e a Petrobrás, e algumas poucas vias rodoviárias que trazem para Salvador parte dos grãos produzidos no Oeste. Mas a regra tem sido a formação de enclaves.

Mesmo no turismo, atividade que gera 1 em cada nove empregos do mundo, e em alguns lugares 9 em cada 10 postos de trabalho, esta marca negativa do desenvolvimento econômico baiano é escandalosamente visível. Os pólos turísticos criaram-se, ou foram criados sem articulação com as economias do entorno ou regionais. Anula-se, assim, o benefício do seu caráter de produto de exportação: tem que importar tudo que consome para se realizar como atividade econômica. E assim a economia do turismo não gera excedente. Porto Seguro tem 40.000 leitos e importa de outras regiões, estados ou países, tudo que lá se bebe, se come, se veste e tudo o que compõe os seus hotéis e restaurantes. Morro de São Paulo desalojou os pescadores da orla e implantou uma rede de hotéis e pousadas que importa tudo. E até Praia do Forte que ostenta um maior grau de integração social com o aproveitamento da mão de obra local e de sustentabilidade ambiental, importa 80% dos mariscos que consome, 49% dos móveis e utensílios dos seus hotéis, vem de fora do Estado ou do Brasil.

Como se vê não era pequena a tarefa do Governo Wagner, nem será do governo de Lídice. A própria esquerda baiana está atrasada vinte anos no cumprimento da grande tarefa histórica de integrar a Bahia física, cultural e socialmente. Não conseguimos transformar em ação o acervo intelectual acumulado por Rômulo Almeida, Pinto de Aguiar (o do enigma baiano) Milton Santos, Thales de Azevedo, Vasco Neto e tantos outros para inserir soberanamente a Bahia no mercado da globalização que se desenhou desde os meados do século XX.

O alinhamento político e ideológico dos governantes no plano estadual e federal – caso de Wagner e Lula – juntou-se à possibilidade de um projeto que ia além dos 4 anos do mandato e abriria para a Bahia uma extraordinária oportunidade histórica: a sua integração. Mas ainda não foi dessa vez. Faltou um discurso conscientizador, estratégico, engajador, revelando aos componentes do próprio Governo e ao povo aquilo que estava se pretendendo. Faltou também – e digo isso me incluindo - uma prática integrada do governo e da sociedade. A ferrovia oeste-leste até o Porto Sul, por exemplo, será muito mais que um "minério-duto"? Poderá contar nas suas cabeceiras e margens com ações integradoras na criação de empregos, formação de capital humano, qualificação de mão de obra, serviços de saúde, educação e assistência social? Vai se articular com o novo aeroporto internacional de Ilhéus? Deveria ser pensada também para o transporte de pessoas e passageiros? Turistas baianos e brasileiros.

Ilhéus, aliás, vai se transformar numa das principais regiões metropolitanas do Brasil. Este pedaço do Sul vai ter a oportunidade de junto com Itabuna, Uruçuca, Itacaré e outras cidades se constituir num território de desenvolvimento integrado com a diversificação industrial do cacau. O chocolates finos devem ser para Ilhéus o que os vinhos são para a França, seu principal cartão postal.

O desafio do próximo governo é demonstrar que o oxigênio democrático indiscutivelmente liberado pelo Governo Wagner, será traduzido em criatividade popular, intelectual e empresarial, em estratégias consistentes. Em articulação das grandes obras com as pequenas, médias e grandes ações sociais.
 

Domingos Leonelli



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