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São João na economia criativa do Brasil como produto turístico cultural do inverno brasileiro.

Foto: Sumaia Vilela/Agêrncia Brasil)

Por Redação

Maior São João do Brasil começou no sábado (22/6), em Caruaru, no agreste de Pernambuco. 

Se o IBGE já tivesse realizado uma pesquisa sobre a economia do São João no Brasil tenho quase certeza que constataria algo muito interessante: as festas juninas se constituem no maior arranjo produtivo na área da cultura do Brasil. Sim, do Brasil, embora os meios de comunicação e mesmo instituições culturais tendam a localizar o São João (incluindo aí os santos menos cotados como Santo Antônio e São Pedro) como um evento exclusivamente do Nordeste. No máximo, podemos admitir que é uma contribuição cultural do Nordeste para o Brasil. Mas basta observar as vitrines dos shoppings-centers das lojas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba e outras capitais no mês de junho para se constatar que se trata de um fenômeno nacional. E se aprofundarmos mais o olhar, descobriremos que essas festas são bem maiores que o carnaval, tanto na sua extensão cultural quanto econômica.

O São João perde para o carnaval em repercussão de mídia nacional e internacional, principalmente pelos carnavais do Rio de Janeiro, Salvador, Recife e, recentemente, São Paulo. Ganha, porém, em todos os outros itens: em maior ou menor proporção, as festas juninas são comemoradas em todos os municípios em praças públicas, paróquias, escolas, clubes sociais, das cidades e dos distritos desse imenso Brasil. Animadas pelos ritmos tradicionais dos pequenos conjuntos musicais, os famosos "Trios Pé de Serra” (sanfona, zabumba e triângulo) até grandes bandas do "forró universitário” e "sertanejo”. As festas de junho têm raízes profundas no imaginário popular, afinal, são muito mais antigas do que o carnaval, tendo chegado ao Brasil lá pelos anos de 1600 e até ajudado na "catequização” dos índios que se encantavam com as fogueiras, bandeiras e cantigas. Acompanhou o processo de urbanização e o avanço das comunicações, tendo os geniais Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira iniciado no rádio, no final da década de 30 do século XX, a trajetória cultural do baião e do forró que até hoje se mantém com a profunda brasilidade de compositores e cantores como Jackson do Pandeiro, Marinês, Dominguinhos, Sivuca, Genival Lacerda, Trio Nordestino, Antonio Barros, Anastácia e outros mais recentes como Targino Gondim, Alcymar Monteiro, Elba Ramalho, Alceu Valença e os baianos Lindu, Zelito Miranda, Carlos Pita, Adelmario Coelho e mesmo Gilberto Gil. Alguns desses compositores urbanos que, como Klecius Caldas, compunham lindas canções "rurais”, a exemplo de O Boiadeiro: "vai boiadeiro que a noite já vem / guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem”.

As festas de junho têm raízes profundas no imaginário popular, afinal, são muito mais antigas do que o carnaval, tendo chegado ao brasil lá pelos anos de 1600 e até ajudado na "catequização” dos índios que se encantavam com as fogueiras, bandeiras e cantigas.

Talvez só o samba tenha uma raiz cultural brasileira tão forte como o baião, o xaxado, o forró e seus derivativos.  

A dimensão econômica das festas juninas é mais significativa que a do carnaval. Basta dizer que os shoppings têm no mês de junho suas vendas mais fortes, só perdendo para o Natal, no Nordeste, e para o Dias das Mães no resto do Brasil. O comércio reflete toda uma cadeia produtiva. No caso de shoppings e supermercados, o elo industrial dessa cadeia: roupas, botas, tênis, sapatos, adereços, alimentos, bebidas.

A agricultura familiar e as pequenas indústrias são fortemente impactadas pelas festas juninas: produção de milho, amendoim, aipim, bolos, canjicas e licores.

O turismo do Brasil e, especialmente, do Nordeste, como mercado receptivo, tem no São João um de seus momentos mais importantes. Como é uma festa para todas as idades e, também, no Nordeste, tem um caráter de reencontro familiar (quase um Natal) são famílias inteiras que se deslocam de carros, de ônibus. Grupos de amigos e jovens em buscas de festas públicas e particulares, lotando todos meios de hospedagem formal e tranformando milhares de casas alugadas em alojamento. Companhias aéreas, empresas de ônibus, além de indústrias, agências de viagens do centro-sul, também beneficiam-se muito do São João, que deveria ser considerado pelos governos como o "produto turístico cultural do inverno no Brasil”.

Mas é na cadeia produtiva da Economia Criativa que o São João revela toda sua força cultural e econômica.

A moda e as confecções voltadas para a festa – camisas e blusas quadriculadas cada vez mais criativas são vendidas em todo o Brasil nas botiques mais sofisticadas, nas barracas de feiras e nas calçadas. As Quadrilhas que vão de brincadeiras de bairro e escolas até grandes espetáculos de dança, teatro e música envolvendo ricas fantasias, coreografias sofisticadas, cenários móveis e conjuntos musicais, empregam profissionais de alto nível e habilidosas costureiras.

Além da moda, toda a indústria cultural tem no São João o seu ponto mais alto, da publicidade (tema de campanhas de rádio, tv, outdoor) ao imenso arranjo produtivo da música que se forma para as festas. Palcos iluminados e sonorizados empregando muitos milhares de profissionais em suas montagens, músicos e cantores que têm cachês valorizados em até 70%, artista plásticos contratados para os cenários físicos ou virtuais, produtores culturais, indústria editorial física e virtual.

O Ministério do Turismo recentemente incluiu o São João no Calendário Oficial do Turismo, creio que a partir de um seminário que o Instituto Pensar realizou em São Paulo em que participou o ex-presidente e ex-ministro da Embratur, Vinícius Lummertz, que muito me envaideceu quando declarou: "o Leonelli colocou o ovo em pé”, referindo-se à nossa proposta de tranformar o São João no produto turístico cultural do inverno brasileiro.

Domingos Leonelli
Presidente do Instituto Pensar

Fonte: www.socialismocriativo.com.br



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