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Colonialismo ecológico, um carrapato em nossas costas

por: Da Redação 


João Capiberibe é ex-governador e ex-senador, Psb-Ap. Ativista pelo desenvolvimento humano e sustentável da Amazônia.

Foto: Assessoria/Camilo Capiberibe

"Na minha casa eu frito peixe com ele,? disse-me uma senhora da comunidade.

Pois é? eu tive que viver muitos anos, setenta e quatro, para ouvir isso pela primeira vez! Não! Não é possível! Reagi incrédulo. O que sei é que ele amarga e fede! Sobre a mesa havia uma dezena de garrafas, pedi uma colher e pela primeira vez provei o azeite de pracaxi. Fiquei positivamente chocado com o sabor! Naquele dia, 29 de julho de 2021, aprendi que o pracaxi, além de sua utilização na medicina e na cosmética, era saboroso, bom de comer! De lá pra cá, eu troquei, o azeite de oliva, que vem de Portugal, as vezes da Grécia, pelo azeite de pracaxi, produzido pelas mulheres do Limão do Curuá, comunidade ribeirinha da Ilha Grande do Curuá, arquipélago do Bailique, onde eu me encontrava naquele dia de julho.

Pergunto-me porquê não aprendi isso antes, aliás, porquê não nasci sabendo que o azeite de pracaxi é tão bom na salada quanto o azeite de oliva. Pois bem, um dia desses convidei as pessoas mais qualificadas de minha cidade, professores doutores e pesquisadores, para provar uma saladinha que eu fiz em casa. Uma eu temperei com azeite de oliva, a outra com azeite de pracaxi, os mestres acharam as duas deliciosas, quando perguntei quem era quem, eles não souberam responder, não conseguiram distinguir um azeite do outro na salada. Eles, homens e mulheres de ciência, assim como eu até aquele 29 de julho no Limão do Curuá, não sabíamos que o azeite de pracaxi era comestível, tão bom quanto o azeite de oliva.

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Essa degustação, que causou surpresa geral, foi um momento de intenso aprendizado, um dia para ficar na história, aconteceu em 20 de dezembro de 2021, quando homens e mulheres de ciência e tecnologia do Amapá, descobriram o azeite de pracaxi. E mais, nesse mesmo dia experimentaram e aprovaram o vinho tinto seco feito de açaí, no entanto este assunto deixo reservado para uma outra ocasião. Nesse dia, senti como nunca o peso do colonialismo ecológico em nossas vidas. É verdade! Somos detentores da maior biodiversidade do planeta. Também é verdade que pouca ou quase nada sabemos dela. Nossas universidades no Amapá e no Brasil, e mesmo a Embrapa, que estava presente na degustação, não têm politicas de pesquisa básica ou aplicada sobre a biodiversidade amazônica, quando muito vamos encontrar um ou outro abnegado, sem apoio institucional, desenvolvendo pequenos projetos nessa área.

Precisamos entender que nosso atraso é político! O carrapato que chegou por aqui há 500 anos continua agarrado em nossas costas, sugando nosso sangue, ensinando-nos a fazer tudo que é bom pra ele e nos mantendo na mais profunda ignorância sobre o que é bom pra nós. Continuamos consumindo azeite de oliva, plantando pinho e eucalipto, criando carpa e tilápia e exportando soja, como nos velhos tempos do Brasil colônia.

Mas nem sempre foi assim! Pelo menos num pedacinho do território nacional! Na década de noventa, vivemos ali uma experiência ousada, revolucionária, O Programa de Desenvolvimento Sustentável do Amapá ? PDSA, que tirou das prateleiras da utopia o conceito de desenvolvimento sustentável e o transformou em prática de governo, colocando os indicadores sociais, econômicos e culturais do Amapá entre os mais altos do país, os registros históricos estão disponíveis, vamos revisitá-los e trazê-los de volta ao futuro. Não foi à toa que os corruptos reagiram ao PDSA, ele mexia nas estruturas da sociedade e redistribuía riquezas.

Portanto nem tudo está perdido! Naquelas jornadas de julho e dezembro, ao tomarmos conhecimento, pelas mulheres do Limão do Curuá, que o azeite do pracaxi extraído a frio era bom pra comer, caiu a nossa ficha! Ainda há tempo de nos reinventar e sair do atraso.



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