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Menos Ministérios, mais Economia Criativa

O objetivo deste artigo não é opor a atividade industrial à Economia Criativa, até porque esta última em alguns dos seus segmentos depende e precisa de uma política que garanta o crescimento da indústria.
Pretende, sim, chamar a atenção sobre a necessidade de se reconhecer o caráter estratégico da Economia Criativa, incluindo nele o turismo.

Em 2013 a produção industrial brasileira cresceu apenas 1,2%. Em 2011 e 2012 menos ainda.
Em fevereiro a produção industrial nacional mostrou recuo de 9% frente a janeiro de 2015. É a 12ª taxa mensal negativa consecutiva e a mais intensa desde julho de 2009 quando a produção industrial apresentou uma queda de 10%.
Se a queda da produção industrial ainda pode ser considerada conjuntural, o mercado de trabalho nesta área revela uma tendência de queda estrutural.

Tanto no que se refere ao número de pessoas ocupadas quanto ao número de horas pagas aos trabalhadores na indústria. Desde 2011 o pessoal ocupado na indústria vem caindo.
Enquanto isso a Economia Criativa deve ter vem crescido cerca de 7%. Sim, o setor cresceu segundo a FIRJAN/IBGE, 6,9% entre 2004 e 2013, passando a representar 2,1% do PIB brasileiro. O turismo, por sua vez, tem crescido a taxas superiores a 7% no Brasil, mesmo com o ainda insatisfatório desempenho do turismo internacional.
Ora, se considerarmos que o PIB brasileiro cresceu a menos de três por cento, estamos diante de duas áreas econômicas de alta performance.
 
O Brasil está atravessando um momento econômico – queda da produção industrial, não crescimento do PIB, ameaça à criação de empregos – semelhante ao que passou a Inglaterra, no final dos anos 90 do século XX, sob a liderança de Tony Blair, também social democrata do New Labour, o então novo partido trabalhista inglês.
Nessa época, Blair deu início a uma experiência que identificava nas atividades ligadas à cultura – cinema, música, atividade editorial, propaganda, arquitetura, mercado de artes e antiguidades, artesanato, design, moda, vídeo, softwares interativos, artes cênicas, jogos de computadores, televisão, vídeo, turismo – com um verdadeiro vetor de desenvolvimento. Uma alternativa ao chão de fábrica taylorista. O governo inglês adotaria o conceito de "Creative Nation", que já se havia iniciado na Austrália em 1994. Blair implantou um superministério de turismo e indústrias criativas que se juntou ao DCMS - Departament for Culture, Media and Sport.

A Inglaterra percebeu que naqueles anos as Indústrias Criativas estavam crescendo a taxas superiores a economia mundial: 5,2% ao ano.

O Banco Mundial, o BID, a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento), a OMC (Organização Mundial do Comércio) e outros organismos produziram centenas de estudos e pesquisas sobre a Economia Criativa que finalmente chegou ao Brasil. Segundo o economista Paulo Miguez, vice-reitor da UFBA, isso aconteceu há uma década: "Seu marco inicial foi a realização de um painel organizado sobre o tema no âmbito da XI Conferência Ministerial da UNCTAD, realizada em junho de 2004 em São Paulo. Aí, com intensa participação do Ministério da Cultura então sobre o comando de Gilberto Gil", informa Miguez.

E, finalmente, em 2011, o Ministério da Cultura lança o Plano de Economia Criativa e implanta uma Secretaria de Economia Criativa no âmbito daquele Ministério. Plano e Secretaria coordenados por Cláudia Leitão, primeira titular do novo organismo. No Plano de Cláudia e sua equipe estão definidas as linhas gerais de ação enriquecidas por uma série de textos, contendo reflexões e recomendações dos maiores especialistas no assunto.
Cria-se também, um conceito global e um slogan sob o qual deveriam desenvolver-se todas as ações propostas: "Brasil Criativo".

Mas o núcleo central do Governo não consegue perceber que cultura e turismo, por exemplo, geram mais empregos, e mais rapidamente, e com menos custos, que a indústria, a construção civil e a energia.
Agora quando se fala de redução do número de ministérios, porque não pensar isso de forma estratégica? Porque não juntar os ministérios da cultura, do turismo, do esporte, da ciência e inovação, num só grande Ministério da Economia Criativa e apostar numa mudança de qualidade do desenvolvimento econômico?

Sem descuidarmos de outras áreas da economia, apostar no desenvolvimento do design nacional baseado em nossa própria identidade, na criação musical, de games, de moda, inclusive para nossas indústrias. Articular as inúmeras possibilidades de crescimento econômico baseado na criatividade brasileira do cinema, da dança, da publicidade, da arquitetura, da literatura, do artesanato, da atividade editorial, da gastronomia.
Um choque de cultura na economia talvez fizesse bem à política. E ao próprio governo como um todo.

DOMINGOS LEONELLI
Presidente do Instituto Pensar
dleonelli@uol.com.br



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