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The Economist repercute saída de Moro e analisa o impacto sobre governo Bolsonaro

por: Nathalia Bignon 

Com o título "O perigoso divórcio de Jair Bolsonaro”, a revista inglesa The Economist repercutiu a saída de Sérgio Moro do ministério da Justiça e o impacto desta perda para o governo de Jair Bolsonaro.

Recapitulando fatos nacionais desde meados de abril, o texto recorda que no dia 19 deste mês, o presidente brasileiro subiu em um caminhão na frente do QG do Exército, em Brasília, dirigindo-se a manifestantes que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Afirma que logo depois, segundo o jornal Folha de S. Paulo, Bolsonaro soube que a Polícia Federal abriu investigação contra um de seus filhos, Carlos, acusado de ser o principal responsável pela manutenção de uma rede de fake news, que pode ter inspirado o protesto. Em 24 de abril, Bolsonaro demitiu o chefe da PF. Horas depois, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, renunciou, acusando o presidente de "interferência política” na polícia para proteger sua família.

https://twitter.com/GeorgMarques/status/1251919042597859329?

Golpe

Dito isto, a publicação aposta que a renúncia de Moro é o maior golpe já sofrido por Bolsonaro desde que se tornou presidente, no início de 2019. "Um capitão do exército que virou congressista, Bolsonaro se levantou das sombras ao explorar a raiva contra a corrupção”. A nomeação de Moro como ministro da Justiça, um juiz que prendeu políticos e empresários como líder das investigações anticorrupção de Lava Jato, sinalizou sua determinação em combater o problema. Agora, Moro, um herói para muitos brasileiros, acusou seu ex-chefe de obstruir a justiça. Se uma investigação apoiar essa acusação, Bolsonaro poderá ser afastado do cargo.

Covid-19

A revista aponta, ainda, que a crise do Governo está no topo de outras duas calamidades: a pandemia da covid-19 e a crise econômica ocasionada pela pandemia. Em 16 de abril, Bolsonaro demitiu o ministro da Saúde, Luiz Mandetta, que se recusou a apoiar seu pedido para que o comércio fosse reaberto. Alguns apoiadores estão desiludidos. "Votei em Bolsonaro na esperança de um Brasil melhor”, diz Ary, motorista de táxi na cidade de Maceió. "Mas foi tudo em vão.”

The Intercept

A publicação lembra também que as acusações que recaem sobre Carlos Bolsonaro não são as primeiras a serem levantadas contra a família do presidente. Antes de assumir o cargo, o Ministério Público abriu uma investigação sobre um possível crime por seu filho mais velho, Flávio, agora senador do Rio de Janeiro. Documentos publicados pelo site de notícias The Intercept sugerem que ele usou dinheiro público para financiar projetos de construção ilegais administrados por "milícias” de direita. "Agora, Moro acusou o próprio presidente”, aponta.

Sobrevivência

Diante do cenário, The Economist afirma, ainda, que a sobrevivência de Bolsonaro no cargo depende de três fatores. O primeiro é a investigação desencadeada pelas acusações de Moro. Seu resultado pode depender da suposta má conduta do presidente atingir seu objetivo inicial. O nome indicado pelo presidente para o cargo do novo chefe de polícia é um amigo da família. No entanto, em 29 de abril, um juiz da Suprema Corte suspendeu a nomeação. Bolsonaro diz que vai recorrer dessa decisão.

Congresso

A segunda condicionante é o julgamento do Congresso, que pode afastar um presidente do cargo com votos de dois terços de membros das duas casas. Para evitar isso, Bolsonaro está se aproximando do centrão, "um bloco de partidos ideologicamente vazios”. Bolsonaro abandonou sua promessa de campanha de não beneficiar legisladores com cargos no governo, em troca de apoio político. O impeachment "não é do interesse do Congresso”, diz Ricardo Barros, deputado federal do partido Progressistas, parte do centrão.

Mas isso pode mudar, admite Barros à revista, se o presidente perder o apoio dos eleitores, a terceira e mais importante influência no futuro de Bolsonaro. Antes de Dilma Rousseff sofrer o processo de impeachment, em 2016, seu índice de aprovação caiu para 8%, o que a fez enfrentar grandes protestos. Bolsonaro continua fortemente apoiado por um terço dos eleitores. Segundo a pesquisa Datafolha, 46% dos brasileiros apoiam sua renúncia, um aumento de nove pontos percentuais em um mês. Mas metade acha que Bolsonaro deve permanecer.

"As pessoas estão começando a dizer: ‘eu estava errado\'”, diz Renan Santos, líder do Movimento Brasil Livre de direita, que organizou protestos contra Dilma Rousseff e inicialmente apoiou Bolsonaro, mas que agora pede seu impeachment. Pela primeira vez desde 2017, Bolsonaro perdeu fãs no Facebook.

Economia

Na análise do Economist, qualquer que seja o veredito popular, a presidência de Bolsonaro perdeu muito de seu objetivo quando Moro renunciou. Sua outra justificativa principal, o programa de reformas liderado pelo ministro da economia liberal, Paulo Guedes, está ameaçado pela recessão. Ele quer cortar gastos, simplificar impostos e privatizar empresas estatais.

Agora, o governo precisa mostrar trabalho. Bolsonaro prometeu a milhões de brasileiros um pagamento mensal de R$ 600 reais (US$ 110). Isso custará R $ 118 bilhões este ano, cerca de 1,6% do PIB. No dia 22 de abril, o governo anunciou um "plano de recuperação” para empregar 1 milhão de pessoas por meio de projetos de infraestrutura. Guedes não foi consultado. Havia rumores de que ele seguiria o destino de Moro.

Guedes

A confiança dos mercados financeiros no Brasil depende da permanência de Guedes. Sabendo disso, Bolsonaro desfilou com o ministro diante de jornalistas no último dia 27 de abril e recuou do plano de obras públicas, por enquanto. Mesmo assim, "as reformas não vão acontecer”, diz Eduardo Cury, deputado federal do Partido da Social Democrático, de centro-direita. "Guedes terá que abaixar a cabeça ou voltar para casa.

Marginalização do Governo

A revista ainda aponta que a marginalização de Bolsonaro deixa o governo nas mãos de ideólogos e generais.

Os ideólogos reforçam as pautas mais importante de Bolsonaro, por exemplo, como a flexibilização do controle de armas. Os militares, que ocupam sete dos 22 cargos do gabinete (incluindo todos os quatro com escritórios no palácio presidencial), às vezes o controlam. Eles moderaram sua hostilidade em relação à China, o maior parceiro comercial do Brasil. "Eles acreditam que são capazes de fazer algo importante para o governo em um momento muito caótico”, diz um general aposentado. Mas a ala militar está em sintonia com Bolsonaro em relação a temas como o desenvolvimento da Amazônia e favorecem o aumento do papel econômico do estado.

Legado militar

Alguns oficiais podem ter dúvidas sobre o apoio à sua presidência prestes a implodir, diz um analista do exército brasileiro. Mas seu senso de dever os manterá leais. O impeachment não diminuiria este papel. Hamilton Mourão, vice-presidente, foi general até 2018. "Se o presidente de espírito militar for removido, ele deixará um legado militar”




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